E Deus fez a perfeição;
Nascido sob o signo de Aries, o Super-homem veio a Terra para provar que tudo sabia.
Os desejos do Super-homem eram os mais perfeitos. As suas idealizações eram irretocaveis.
Nada existia sem que o Super-homem conhecesse ou soubesse o destino.
O Super-Homem era simplesmente perfeito.
Foi então que o Super-homem teve que abrir mão de um de seus planos...a vida, a essa maldita vilã, colocou na sua frente obstaculos que o fizeram mudar o rumo.
A primeira decepção foi ver que aquilo que ele queria, que seria o perfeito e imaculado plano, já não servia mais, pois o Super-homem agora não estava mais sozinho. Agora não era mais só o destino dele que estava em jogo, mas sim o destino de sua prole, de sua herança para o mundo...e sendo ela herança do Super-homem, que legado mais perfeito poderia existir?
Acabariam então os voos solo.
A cada vez que subia, o Super-homem agora levava mais peso, e foi então que a vida, mais uma vez agindo contra os designios desse que tudo achava saber, faz com que o peso aumente.
Conformado com mais essa mudança de horizontes, o Super-homem seguiu em frente talhando e moldando a sua prole à sua imagem e semelhança: Nada menos do que a perfeição.
A vida dele ainda não estava perfeita. A dualidade se anula e sendo assim é preciso o 3 para contra-balancear, dar o voto de minerva.
Pela primeira vez o Super-homem achou que tinha ludibriado a vida e passou assim a fazer troça de sua inimiga.
Agora seu caminho já estava traçado. Seu plano de vôo preenchido. Nada poderia falhar pois o Super-Homem agora era imortal.
Seu corpo material poderia se extinguir, mas o seu legado não. Sua prole perfeita supriria o mundo com toda a sapiencia e perfeição que este mundo que ele já conhecia com a palma das mãos pudesse precisar.
Quando ele achou que tudo estava resolvido e que a vida ja lhe era submissa, essa desferiu mais um golpe arriscado:
A sua prole não era a sua imagem e semelhança.
A cada passo que a pretenção do Super-homem dava, a vida tratava de dar aos seus filhos uma cota a mais de verdade, aquela que abriria ainda mais os olhos do Super-homem, tornando-o um ser realmente superior se assim a soubesse utilizar.
Que ironia. O antidoto para o mal do Super-homem acabara de se tornar o seu veneno.
No inicio era tudo perfeito. Ele sabia aonde ia, ele sabia o que fazia. Ele sabia o que era melhor para ele e para os seus, mas se esqueceu que o Tempo passava e as coisas mudavam nesse mundo que ele agora vivia.
Já não existiam mais ternos e chapeus, e a musica já não era mais executada por orquestras.
O homem começava a agir de maneira estranha e se adaptava aos novos tempos, mas isso para o Super-homem não existia...isso era um subterfugio da vida para derrota-lo.
Seguiu andando sem olhar para tras. Seguiu para aquela que seria a sua mais longa e dura batalha.
Descobriu que a vida (traidora mordaz) tinha inoculado em seus filhos, a cada um uma dose maior, o veneno da verdade.
Não podia ser real. Isso não podia estar acontecendo!
Ele, que tudo sabia, não podia acreditar que sua prole, a perfeição entre a perfeição não era mais igual a ele!
Aonde ele havia errado? Aonde os planos dele tinham falhado?
Já estava tudo decidido: Cada um dos tres seria igual a ele. Seriam todos iguais ainda que nas suas diferenças e o contrario disso não seria aceito.
Lutou com garras e dentes. Foi contra tudo e contra todos que assim o Super-homem conseguiu moldar o primeiro.
A obra estava acabada, e a vida não poderia mais tirar o gesso que prendia os braços e as pernas do primogenito.
O feitiço do Super-homem que refreava a vida do primogenito estava pronto.
O que o Super-homem não sabia, é que o primogenito tinha desistido de lutar para se libertar e acabou caindo em sua armadilha pela simples desilusão de não conseguir perseguir seu sonho.
Faltavam agora só mais dois:
O segundo em muito lembrava o temperamento do Super-homem. Era duro e intransigente. Resistente para com os seus, mas maleavel para com os outros.
Tinha em seu interior um medo morbido dos pensamentos do Super-homem.
Gardava para o peso de querer para si aquilo que o Super-homem mais abominava: Ele queria ser livre.
Os duelos foram intensos. Muitos ao redos sofreram pois nada poderia abalar o mundo utopico do Super-homem.
Todos viam que o segundo filho era terreno e que o Super-homem nada poderia fazer para mudar isso.
O Tempo passou e a Vida, escondida dele, ensinou ao segundo filho como se portar perante aquele ser de "sabedoria suprema" que sem perceber ia perdendo os seus poderes, e esse teve entao certeza de que havia dominado mais um.
Quem a vida pensa que é para mexer com os brios do Super-homem?
Sobrava agora o terceiro; mas esse não será dificil...
Assistindo a tudo o que se passou com os outros irmãos, o terceiro filho sabia de cor as reações.
Sim, o terceiro filho tinha certeza de que era a imagem e semelhança do Super-homem.
Ele tudo sabia. Ele tudo podia.
A vida do Super-homem era a vida que o terceiro queria para si.
Chamou para ele a responsabilidade de conduzir o mundo com mãos de ferro, seguindo a sua sabedoria que era herdada de seu pai.
Se sua sabedoria tinha a origem no Super-Homem, quem poderia ir contra?
Mas a vida é ardilosa e não estava satisfeita com isso. O mundo do Super-homem já não era mais como na sua cabeça. Muito tinha mudado, mas as regras do ser supremo continuavam imutaveis.
Como num golpe arrasador, a vida derrubou os muros que o Super-homem construira ao redor de seu terceiro filho. A luz que vinha de fora cegou-lhe os olhos, mas assim que recobrou a visão, o terceiro filho se levantou e se arriscou no mundo exterior.
Aquela não seria uma batalha facil para o Super-homem.
Como a Vida, essa que o Super-homem desprezava por tudo saber ao seu respeito, poderia interessar a seu filho?
Não tinha ele dado ao seu filho um mundo perfeito, cercado por muros altos pintados com simulacros da realidade?
Não, nao...o Super-homem não desistiria assim tão fácil de seu sonho idealizado:
O terceiro filho teria que aceitar a sua vontade. O terceiro filho tem que ser engessado e doutrinado!
"Não cruze esse portão"- disse o Super-Homem - Do lado de fora as coisas não são como aqui dentro. Aqui eu posso dar-lhe uma direção. Posso abrir-lhe as portas. Posso fazer com que o tempo pare e que você detenha a verdade absoluta de todos os tempos!".
Mas a Vida chamava o terceiro para si, afinal, o terceiro filho não era dela também?
Como um ato de desespero, o Super-homem correu até o portão no qual o terceiro filho se postava com os outros dois observando a cena a distancia.
"Eu sou o detentor da verdade!" disse ele. "Minha maneira de portar é a correta. Veja, dominei até a vida! "
"Tenho ela sob meus pés e subjulgo-a com meu olhar"
Ao olhar para aquela que se encontrava sustentando o seu pai, o terceiro filho visualizou o ser mais belo em qual já havia pousado os olhos, e sorrindo seguiu em frente.
O filho sabia que o Tempo havia agido, mas seu pai se surpreendeu quando percebeu que não olhava mais um filho, mas sim uma mancha que seguia rumo à tudo aquilo que ele temia.
Indignado, o Super-homem pensou: "Maldito Tempo! Como foi que deixei ele escapar?"